Desde as últimas eleições norte-americanas, o termo “fake news” passou a frequentar cada vez mais o noticiário. Em 2017, o termo chegou a ser considerado a “palavra do ano” pelo dicionário Oxford. Tão arriscado quanto a proliferação de notícias falsas é a tendência à desinformação e ao descrédito à comunidade científica. Nesse caso, é possível citar o terraplanismo, o movimento anti-vacina e a negação às mudanças climáticas.
Um ponto em comum entre estes dois cenários é o uso da tecnologia para disseminar essas ideias. Da mesma forma que a internet estreitou fronteiras, melhorou a comunicação e democratizou o acesso ao conhecimento, ela também deu voz e espalhou teorias da conspiração e mentiras.
Levando em conta que a tecnologia (ou o mau uso dela) pode ser considerada uma das “responsáveis” por este cenário, como que ela mesma pode ajudar a reduzir os danos e frear às fake news?
Conhecemos dois projetos bem interessantes que buscam combatê-las, utilizando tecnologias que estão em alta, como inteligência artificial e blockchain. Ambas as iniciativas têm como objetivo detectar notícias falsas e informar corretamente o público. Confira!
Em São Carlos, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e da Computação (ICMC) da USP, em parceria com a Ufscar, desenvolveram uma ferramenta que identifica padrões e, por meio de inteligência artificial, indica a possibilidade de uma notícia ser falsa ou não, o FakeCheck.
“Basicamente, ele funciona procurando padrões textuais que hipotetizamos ser de notícias falsas. A entrada é um texto de pelo menos 100 palavras e o nosso modelo de inteligência artificial faz várias análises, como quantidade de adjetivos, verbos, palavras erradas e outros. A partir desses números, o FakeCheck retorna uma resposta, dizendo que a notícia pode ser falsa ou verdadeira, pedindo para que o usuário pesquise mais sobre o assunto. Pensamos em uma ferramenta de auxílio, pois dessa forma ajudaríamos mais o usuário a tomar uma decisão”, afirmou Roney Lira, doutorando em processamento de linguagem natural e um dos responsáveis pelo desenvolvimento da ferramenta.
O FakeCheck pode ser utilizado de duas formas: pelo site da ferramenta e pelo WhatsApp. No aplicativo de mensagens, você deve adicionar o contato de um bot à sua lista de contatos. Tanto no site quanto no WhatsApp, é preciso colocar o texto que você deseja que seja analisado e ele te responderá se a notícia pode ser falsa ou não.
Para Roney, a capacidade de o computador em processar informações em grandes quantidades e aprender o estilo de texto que caracteriza as fake news é de grande auxílio para a realização das checagens:
“Nossa hipótese é que a fake news tem um padrão textual diferente da notícia verdadeira, que pode ser identificada com vários exemplos, para, ao final, com esses exemplos, conseguir distinguir a falsidade a partir desses padrões, abastecidos pela inteligência artificial”, explicou o doutorando.
Nós já comentamos aqui no blog como o Blockchain, tecnologia por trás do funcionamento e segurança das criptomoedas, pode ter inúmeras utilidades. Entre elas, a de combater as fake news.
Foi pensando nisso que a empresa OriginalMy, que trabalha com validação de documentos digitais dentro da tecnologia blockchain, desenvoleu o plugin PACWeb, que autentica conteúdos de sites, blogs ou redes sociais. Assim, é possível confirmar sua publicação e impede que ele possa ser alterado para disseminar alguma informação falsa, conforme detalhou o CEO da empresa, Edilson Osorio Júnior:
“O PACWeb (Prova de Autenticidade de Conteúdo WEB) é um plugin para o navegador Chrome que escaneia páginas públicas da web e gera um relatório em PDF de que o conteúdo estava publicado daquela forma e naquele momento. Através da nossa plataforma, é possível então certificar esse documento em blockchain, como também, autenticá-lo em cartório. Uma vez certificado em blockchain, mesmo que o conteúdo seja removido da Internet, a prova de que ele existiu permanecerá para sempre. Além disso, o relatório passa a ter uma assinatura digital única e exclusiva (o hash) que é uma espécie de ‘DNA’ do documento, e, com ele, é possível identificá-lo em nosso site”.
O blockchain se apresenta como uma opção tão segura justamente por essa característica de nunca poder ser alterado. No Brasil, um dos candidatos à presidência nas eleições do ano passado registrou seu plano de governo no blockchain como uma forma de comprovar a veracidade das informações, caso circulasse alguma versão alterada do documento. A União Europeia já confirmou o uso da tecnologia no desenvolvimento de um “código de práticas contra a desinformação”.
Para Edilson, o plugin PACWeb desennvolvido pela OriginalMy surge como uma opção eficiente não somente para comprovar autoria de um texto, mas também para evitar outros problemas comuns no ambiente virtual: “ele pode ser útil também em relações a conteúdos caluniosos em redes sociais, bullying, exposição de conteúdos indevidos, comprovação de maus procedimentos trabalhistas, entre outros tipos de conteúdos digitais”, disse.