O ano é 2045. As ruas, como de costume, estão lotadas de carros, mas não há motoristas que os conduzem, andam todos sozinhos. Nas lojas, não se encontra mais funcionários para demonstrar produtos e ajudar com as compras, foram substituídos por caixas eletrônicos autônomos que são capazes de indicar a roupa que melhor lhe cairá e mais lhe agradará (mesmo que você ainda não saiba disso). Nas fábricas, não se ouve mais a conversa de funcionários, só o ranger do atrito de metais que fazem as engrenagens em constante movimento. É possível pegar um taxi, almoçar em um restaurante, fazer compras em um shopping e voltar para casa sem interagir com uma única pessoa.
Parece um futuro ágil e eficiente, a não ser pelo detalhe do apocalipse tecnológico que se instalou, no qual mais da metade da população mundial teve sua posição de emprego preenchida por uma máquina. Por conta disso, a civilização entrou em um colapso de desemprego crescente e as pessoas se armaram em uma onda de violência sem precedentes.
Apesar de parecer um episódio ainda não divulgado de Black Mirror, essa foi a previsão que fez o ex-executivo do Facebook Antonio Garcia Martínez, de 40 anos, quando decidiu largar seu emprego no Vale do Silício, em 2015, para se refugiar em um abrigo que estava construindo no meio da floresta em Orcas, uma pequena ilha na costa do Estado de Washington, nos Estados Unidos.
"Dentro de 30 anos, metade da humanidade não terá trabalho. E a coisa pode ficar feia, pode haver uma revolução. É por isso que estou aqui", diz ele em entrevista à BBC ao desembarcar armado com um fuzil em seu refúgio.
Martinez desembarcando em seu abrigo nos EUA, foto divulgada pela BBC.
Delírio vs Realidade
Eu sei, eu sei, esse sujeito parece não bater nada bem das ideias, mas ele pode ser menos maluco do que imaginamos. Segundo a pesquisa chamada Future of Jobs, feita pelo Fórum Econômico Mundial no ano passado, cerca de 5 milhões de postos de trabalho nas 15 maiores economias desenvolvidas e em desenvolvimento do mundo devem desaparecer nos próximos 4 ou 5 anos, sendo substituídos por dispositivos tecnológicos de todos os tipos – o Brasil está entre os países estudados. Os principais campos que vão causar esse efeito, o chamado núcleo de desenvolvimento da chamada Quarta Revolução Industrial, são: robótica, nanotecnologia, impressão em 3D, inteligência artificial, biotecnologia, machine learning, Internet das Coisas (IoT), entre outros.
Na verdade, já podemos observar vários indícios dessa previsão:
A Shenzhen Evenwin Precision Technology Co., empresa chinesa que fabrica partes de telefones e outros eletrônicos, substituiu, em 2016, 90% de sua mão de obra por dispositivos autônomos, ou seja, robôs.
Este ano, em Las Vegas, foi inaugurado o Tipsy Robot Bar, onde o diferencial é o fato de quase não haver intervenção humana em seu funcionamento. Os bartenders são todos controlados por inteligência artificial, e você deve fazer os pedidos em um tablet por meio de um aplicativo. Quando a bebida estiver pronta, o cliente recebe um alerta sonoro.
Outro exemplo é o Watson, supercomputador da IBM, que já é capaz de interpretar laudos médicos, elaborar processos jurídicos e realizar atendimento em contact centers, uma vez que é capaz de interpretar dados, localizar evidências e gerar hipóteses. O Google também está desenvolvendo sistemas de inteligência artificial que já conseguem editar fotos e também criar conteúdo jornalístico para a imprensa (essa parte, em particular, não me agrada nem um pouco).
Confesse, Martinez parece menos lunático agora, não é mesmo?
Sou de TI, meu emprego está seguro... Só que não
Com essa onda de avanços tecnológicos iminentes, você, da área de Tecnologia da Informação, provavelmente está muito contente por ter escolhido esta opção quando preencheu os formulários do vestibular. Seu emprego está seguro. Na verdade, você está mais para o vilão da história do que para a vítima, afinal, você articula esses robôs que estão roubando os empregos – dos outros, não o seu. Certo? Errado! Nem tudo são flores no reino dos computadores.
Em 2016, dois professores da universidade de Oxford, Carl Benedikt Frey e Michael Osborne fizeram uma pesquisa em que analisaram 702 profissões e estimaram suas chances de automatização nos próximos 20 anos. O estudo considerou as demandas específicas de cada profissão, tais como exigência por soluções criativas, interações sociais e negociações - os pontos fracos (por enquanto) das máquinas. A pesquisa estima que cerca de 47% dos empregos atuais, nos EUA, estão em risco. Entre estas funções estão, além dos motoristas de veículos como caminhões e táxis, estagiários de advocacia, jornalistas, desenvolvedores de software, administradores de sistemas de computação, etc. Sim, até mesmo TI entra na dança.
Fazendo coro, no final do ano passado, o bilionário Vinod Khosla, fundador da Sun Microsystems, afirmou em entrevista ao The Wall Street Journal que 80% dos empregos de TI poderiam ser substituídos por sistemas com Inteligência Artificial em questão de décadas.
Eloi Prado de Assis, CIO da Ri Happy, conta que esse cenário está bem próximo de nós: “Esses dias eu estava em uma reunião com a minha equipe e estávamos discutindo sobre novas previsões de tecnologia para o mercado. Existe uma startup brasileira que recentemente me apresentou um Chatbot, robô movido por inteligência artificial, que pode ser configurado para fazer suporte técnico de TI. Imagine que você tem um problema no seu computador, então você abre seu Whatsapp e tem um robozinho para você conversar. Você explica qual o problema com seu computador e ele lhe fará perguntas pertinentes. Então, o Chatbot se conectará ao seu computador e fará o diagnostico do problema, além de aplicar soluções simples. Vale lembrar que não estou nem falando de Vale do Silício e sim de coisas próximas a nós, uma startup brasileira”.
Quer ver como ficam algumas funções da sua área? Confira aqui:
“Todo esse pessoal responsável por suporte transacional, de operações do dia a dia, de manutenção e suporte básico está correndo risco, sem dúvida nenhuma. Acredito que correm um risco de diminuição nas posições em curto e médio prazo e até de eliminação em médio e longo prazo”, conclui Eloi.
Caso seu emprego não esteja nesta lista, você pode consultar o site Will Robots Take My Job que reúne o estudo de Oxford. Basta colocar o nome do seu cargo em inglês e ele lhe mostrará a previsão.
Profissões do futuro
Calma, nem tudo está perdido! Você ainda pode comemorar a escolha de TI para ser seu ganha-pão, contanto que se mantenha atualizado com as novas demandas. Em contrapartida às profissões na área de TI que serão automatizadas, existem também aquelas que serão criadas ou que estão em constante ascensão.
O CIO da Ri Happy conta como enxerga as profissões do futuro na área de Tecnologia da Informação: “Desenvolvimento de software, para mim, sempre foi o segredo do sucesso. O hardware sem um programa bem escrito, sem um código por trás não funciona sozinho. As profissões que estarão mais em alta são as que vão lidar com desenvolvimento de algoritmos, desenvolvimento de inteligência artificial, desenvolvimento de Chatbots, desenvolvimento de Blockchain e desenvolvimento de machine learning. Essas capacidades são as mais avançadas que vem se estudando no ramo da programação de computadores”.
Confira algumas profissões que estarão em alta nos próximos anos na área de TI:
Designer de impressão 3D
A impressora 3D hoje já é realidade dentro das empresas, principalmente para criar moldes e protótipos. A demanda por dispositivos deste tipo só tende a aumentar, o que levará a necessidade de profissionais especializados.
Desenvolvedor e técnico em drones
Seja monitorando os processos de produção ou levando compras para os consumidores, os drones já estão presentes em vários setores do mercado, e essa tendência tende a crescer cada vez mais. O profissional que desenvolve e faz a manutenção deles terá muita demanda.
Engenheiro de dados
O engenheiro de dados é quem vai criar os algoritmos de inteligência artificial. É um profissional que já existe, mas que terá muito mais importância a curto prazo.
Cientista de Dados
Esse profissional trabalha com análise de Big Data, e deve possuir habilidades em matemática, estatística e programação, além de apresentar capacidades para analisar um determinado negócio e apresentar soluções para as empresas. Esta é uma das profissões com maior demanda nos Estados Unidos e que possui remuneração de mais de 100 mil dólares anuais.
Cientista de machine learning
O papel do cientista de machine learning é a criação de algoritmos para construção de sistemas inteligentes que consigam aprender com a experiência e que posteriormente possam tomar decisões sozinhos.
Engenheiro de machine learning
O profissional dessa área tem o objetivo de criar soluções de software que utilizem algoritmos de machine learning existentes, ou seja, enquanto o cientista de machine learning desenvolve novos algoritmos, o engenheiro faz uso deles nos mais variados tipos de aplicações. O cientista de dados recebe os dados brutos e, além de aplicar algoritmos, também deve analisar os resultados e apresentar as melhores decisões estratégicas.
“Estamos saindo da programação tradicional, na qual você tenta prever todas as situações possíveis que um programa pode encarar e precisa programa-lo para as saídas adequadas. Agora, a gente vai para um mundo em que você precisa desenvolver capacidades cognitivas no software, para então ele poder inferir qual solução tomar baseado nas condições que vão sendo apresentadas. O software precisa ter inteligência para tomar as próprias decisões. O paradigma da programação está mudando, deixando de ser cartesiano para ser cognitivo” – conclui Eloi.