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“Isso não é novidade nenhuma”: Vamos bater um papo sincero sobre OKR?

Métricas, indicadores, transformação digital...  Todos esses termos estão na ponta da língua de quem vive no mundo dos negócios e tornaram-se verdadeiros requisitos para os profissionais, principalmente os de TI. Afinal, quem vive mais intensamente a transformação digital do que o pessoal de tecnologia?

Às vezes, os gestores abraçam algum novo termo, algo que promete ser revolucionário para a equipe, mas que já está sendo usado pelas empresas (ou até mesmo por você mesmo) com outro nome.

Este pode ser o caso dos OKRs, novos indicadores “favoritos” dos gestores de tecnologia?

Para o CEO da Kick Off Consultores Associados e Professor da Live University, William Juliano, sim! Ele aponta que os Objectives and Key Results não são necessariamente uma novidade e muito menos chegam para substituir outros modelos de indicadores utilizados até então, como os KPIs. Porém, eles podem ser grandes aliados no processo de transformação, não só da TI, mas da empresa como um todo. Confira o que ele falou na entrevista abaixo!

Como as métricas e indicadores podem ajudar na transformação digital da TI?

Antes de responder, vamos combinar que você não transforma a área de TI. Quando falamos em transformação digital estamos falando da empresa inteira. A TI já é tecnologia, o que tem que mudar é o papel da TI. Quando você fala em transformação digital em compras, por exemplo, rola porque oferece uma nova forma de trabalhar, mais leve, mais ágil, com benefícios claros e redução de custo. A TI tem que ajudar a implementar, é uma parte do escopo de transformação do negócio.

Agora sobre as métricas, tem aquela máxima de que você não melhora o que você não mede. Para eu melhorar o meu negócio, minha área de tecnologia, eu preciso saber o que eu estou colocando como indicador, saber se estou atingindo meus objetivos. Esses objetivos são da empresa como um todo e são compartilhados com a área de tecnologia. E é aí que o negócio começa.

Primeiro você tem os indicadores da empresa, o que o acionista quer. A partir daí você cascateia isso para a tecnologia da informação. Os indicadores para TI te mostram se você está na direção certa, é um balanço dos resultados da tecnologia com os resultados do negócio. O que ajuda muito, seja KPI ou OKR, é que você coloca a TI mais próxima do negócio, você usa a língua do negócio. Quando você fala em custo total de propriedade, quanto custa tocar a TI na empresa, você está usando a língua da empresa, você não fala em métricas obscuras, que o cara de vendas não entende o cara da TI está falando. Quando você tem essas métricas e indicadores, elas ajudam nessa transformação à medida que você sabe que está indo na direção certa e coloca a TI mais próxima do negócio.

O que o método OKR traz de novo e moderno em relação a indicadores que eram tradicionalmente usados, como os KPIs?

OKR não tem muita novidade. Nasceu na Intel na década de 1970, é um treco mais velho que andar para frente. O OKR acabou se tornando mais popular porque o Google adotou essa “tecnologia há 5, 6 anos e ajudou a difundir essa metodologia de acompanhamento de resultado.

Eu entrei na GE há 30 anos e a primeira coisa que meu chefe fez foi pegar uma folha de papel e discutir meus G&Os, goals and objectives, que era praticamente a mesma coisa que o OKR de hoje! Eu sei que a gente quer novidade, mas não há exatamente muita novidade no OKR.

O que você faz com ele é pegar as métricas ou objetivos da empresa, como aumento em 10% de faturamento da empresa, por exemplo. E você pega essa meta e cascateia para todo mundo da empresa. O que significam esses 10% para o cara de marketing, para o cara de vendas, para o cara de RH… isso é o OKR!

E o KPI está dentro do OKR... e o OKR não matou o KPI. E é importante deixar isso claro porque há muito modismo. É meio coisa de onda, coisa pra vender palestra, mas não tem novidade na forma como você mede performance.

O bacana da diferença de um OKR do KPI é que o primeiro fala o que você quer fazer, mas de uma forma mais ampla, mais genérica. E aí você tem o KPI para te mostrar o resultado. O KPI demonstra se você chegou lá ou não. E, dentro do OKR, você pode declarar coisas que você quer fazer que podem não ter uma ‘métrica’ propriamente dita.

Que exemplos você pode dar do uso correlacionado do OKR e do KPI?

Você fala que a TI quer ser mais ágil, esse é o objetivo. Legal, mas como eu mostro que eu sou mais ágil? Junto com esse objetivo, eu tenho um KPI, eu posso falar que sou mais ágil porque o meu ciclo de desenvolvimento de projeto diminuiu. Antes, eu desenvolvia um projeto que o ciclo de desenvolvimento era em seis meses, agora são em quatro.

Outro objetivo bacana que pode entrar nos OKRs é criar e testar MVP (Produto Mínimo Viável). Exemplo: eu crio um balão de ensaio de um software e eu quero saber se vai ter mercado ou não, este é um modelo típico de MVP. Isso pode ser um objetivo dentro de TI que é testar MVPs, mas como eu meço isso? Eu quero criar tantos MVPs, quantos projetos eu consegui testar e executar em dois meses… Esse é um KPI que me fala que estou cumprindo meus OKRs. De novo, eles precisam estar alinhados com o objetivo do negócio. Esse papo de OKR em TI começa com os objetivos da empresa, e não o contrário.

Visando a transformação digital, quais são os OKRs que toda área de TI precisa ter?

Vamos partir do princípio que o cara de TI, o CIO, é um cara de negócios, é um cara que sabe como a empresa ganha dinheiro. Isso não é necessariamente óbvio, mas precisa saber disso. Vamos partir desse pressuposto.

A primeira coisa que o cara precisa fazer são as métricas operacionais de TI. Não adianta eu querer viajar na maionese se eu não estou entregando o básico. Se o ERP cai, se a internet está fora do ar, o cara atrasa todos os projetos… Se ele não entrega o básico, não adianta falar de transformação digital.

Com isso andando bem, aí podemos falar de métricas de transformação, que é a parte bacana! Como que eu executo o projeto? Como eu estou entregando de forma ágil? Eu uso scrum ou alguma outra metodologia ágil? Quantos dos meus caras conhecem realmente o negócio? Como eu testo (e quanto eu aprendo) meus MVPs? Não pode ter medo de errar, contanto que o cara tenha algum tipo de aprendizado. O que eu vejo hoje é que as empresas não querem correr esse risco de errar, acham que isso é ruim, e não é. Eu preciso trazer isso para a TI.

E você tem as métricas de redução de custo, que pergunta quanto eu gasto por funcionário? Tem os indicadores de nuvem, que pergunta qual a porcentagem do meu ambiente que está fora do meu ambiente corporativo?

Como eu valido novas tecnologias? Você tem um monte de tecnologias dentro de Inteligência Artificial, eu posso usar isso internamente? Quantos dos meus caras conhecem a tecnologia que eu quero investir? É uma métrica importante! Outra métrica bacana é a porcentagem de investimento em tecnologias.

Tem um monte de coisas, mas a ideia toda quando eu falo em transformação digital são OKRs para o negócio, e não internos. Eu uso OKRs ou KPIS internos para mostrar que estou entregando o mínimo e o resto é coisa de negócio, que o presidente da empresa olhe e entenda o que estamos gastando e fazendo!

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